martes, 18 de abril de 2017

Saída de Campo 2 (PT)

Mesozóico d Bacia Lusitânica 

  Faunas de invertebrados e vertebrados que habitaram Portugal no Jurássico Médio-Superior (Vanda Faria dos Santos, Bruno Pereira, Elizabete Malafaia e Francisco Ortega)

Sábado, 22 de Abril

A saída de campo terá partida de Pombal e levar-nos-á ao Maciço Calcário Estremenho, Portugal central, para visitar algumas das jazidas mais importantes do Jurássico português no que diz respeito ao seu conteúdo fossilífero.

Resumo 
Esta saída tem como objectivo a visita de três jazidas de referência no que diz respeito ao estudo das faunas do Mesozóico Português: a Pedreira do Galinha (Ourém/Torres Novas), o Cabeço da Ladeira (Porto de Mós) e Andrés (Pombal). Nesta visita vamos viajar pelos ambientes marinhos de pouca profundida e de transição do Jurássico Médio e pelos ambientes continentais depositados por antigos sistemas fluviais do Jurássico Superior. Para além da caracterização das faunas existentes, será ainda efetuada uma contextualização sobre a evolução da Bacia Lusitânica (ou Lusitaniana), cuja formação está relacionada com a abertura do Atlântico Norte.

1ª Paragem: Pedreira do Galinha

Pedreira do Galinha (foto de Vanda Faria dos Santos)

A Pedreira do Galinha tornou-se mundialmente conhecido devido à descoberta de numerosos trilhos de dinossáurios saurópodes do Jurássico Médio Português. Estes trilhos adquiriram relevância científica com a publicação de vários estudos centrados na paleobiologia deste grupo.  

Mapa de trilhos de saurópodes existentes na Pedreira do Galinha



A Pedreira do Galinha localiza-se na parte Este da Serra de Aire (estando inserida no Parque Nacional da Serra de Aire e Candeeiros), onde afloram rochas depositadas em ambientes de transição do tipo lacustre, durante o Bajociano-Bathoniano (Jurássico Médio). Esta jazida destaca-se pela presença de vários trilhos atribuídos a dinossáurios saurópodes (mais de 20 trilhos). Estes representam alguns do maiores trilhos contínuos preservados no registo fóssil (147 e 142 metros) e foram descritos por Vanda Faria dos Santos. Relativamente à sua atribuição sistemática, os trilhos identificados nesta pedreira permitiram o estabelecimento de um novo icnogénero e uma icnoespécie, Polyonyx gomesi.




Icnoespécie Polyonyx gomesi (Santos et al., 2009)

Esta importante jazida foi encontrada numa pedreira em funcionamento no ano de 1994. O Museu Nacional de História Natural é responsável por demonstrar à administração pública e à comunidade científica a importância paleontológica deste local, o que permitiu a sua classificação como Monumento Natural. Em 1997, este monumento abriu ao público e desde então têm incrementado a sua oferta museográfica, com a incorporação de diversos projectos de divulgação.

2ª Paragem: Cabeço da Ladeira


Pedreira do Cabeço da Ladeira (foto de National Geographic)

O Cabeço da Ladeira, em Porto de Mós, será a nossa segunda paragem nesta saída sobre o Mesozóico da Bacia Lusitânica. Nesta antiga pedreira foi encontrada uma jazida de preservação excepcional datada do Bajociano superior (Jurássico Médio). Esta jazida recebeu atenção dos meios de comunicação social em 2013: https://www.publico.pt/2013/12/10/local/noticia/vestigios-de-praia-jurassica-encontrados-em-porto-de-mos-1615797 ou https://nationalgeographic.sapo.pt/75-edicoes/163/287-uma-praia-jur%C3%A1ssica


Pereira et al. (2014)


A jazida de Cabeço da Ladeira destaca-se pela presença de vários grupos de equinodermes com uma excelente preservação, nomeadamente com exosqueletos articulados, o que é relativamente raro de encontrar no registo geológico. Estes equinodermes encontram-se preservados numa sequência de carbonatos peritidais que registam a presença de tapetes microbianos instalados numa planície de maré. Marés que poderão ter sido responsáveis pela morte in situ destes equinodermes (Neto de Carvalho et al., 2016).  



Esta jazida destaca-se ainda pelo seu abundante registo de icnofósseis, que incluem marcas atribuídas à actividade de caranguejos e de outros crustáceos, poliquetas, gastrópodes, crinóides isocrinídeos, insectos e peixes. Laterigradus lusitanicus e Krinodromos bentou são dois novos icnotaxa descritos com base em exemplares recolhidos no Cabeço da Ladeira (Neto de Carvalho et al., 2016).


3ª Paragem: Jazida de Andrés



Reconstrução paleoambiental da jazida de Andrés (ilustração de Nuno Farinha)

A jazida de Andés localiza-se na freguesia de Santiago de Litém do município de Pombal, e a sua descoberta é uma das mais importantes para o grupo dos vertebrados nos últimos 30 anos em território ibérico. Nesta jazida foram encontrados inúmeros fósseis de vertebrados datados do Jurássico Superior, mais precisamente do Tithoniano, ou seja com cerca de 150 a 145 milhões de anos. Alguns destes fósseis permitiram revelar informações importantes sobre as relações entre as faunas do Jurássico Superior de Bacia Lusitânica e da América do Norte.

Restos craniais de Allosauus

A jazida de Andrés foi descoberta no ano de 1988 por José Amorim, proprietário de um terreno agrícola em Andrés. No seguimento desta descoberta, o senhor José, suspeitando da possibilidade de ter encontrado ossos de dinossáurio no seu terreno, decidiu contactar o Museu Nacional de História Natural em Lisboa. Confirmada esta descoberta, uma equipa de paleontólogos deste museu procedeu à primeira campanha de escavação no local, a qual resultou na descoberta de vários ossos fossilizados atribuídos a um dinossáurio terópode. Estes restos foram encontrados em sedimentos de antigos ambientes fluviais que se depositaram à 150-145 milhões de anos, no Jurássico Superior. Os primeiros estudos publicados em revistas internacionais da especialidade sugerem que este dinossáurio terópode pertenceria a uma das espécies de dinossáurios mais abundante em níveis correlativos da Americana do Norte, Allosaurus fragilis (Pérez-Moreno et al., 1999). Este estudo promoveu um intenso debate sobre a possibilidade de ter existido contacto entre as faunas do continente norte-americano e da Península Ibérica, durante o Jurássico Superior.

Trabalhos paleontológicos na jazida de Andrés em 2005

O estudo detalhado dos fósseis de Andrés, assim como de outros vertebrados encontrados em outras localidades do Jurássico Superior da Bacia Lusitânica, tem vindo a modificar, em certa medida, o cenário proposto em 1999. Duas novas campanhas de trabalhos paleontológicos foram desenvolvidas nos anos de 2005 e de 2010. Outros fósseis de dinossáurios terópodes atribuídos a Allosaurus foram encontrados (incluindo um crânio parcial), assim como de outros vertebrados, destacando-se a presença de um esqueleto quase completo de um esfenodonte (grupo de répteis ao qual pertencem as tuataras). Malafaia e colaboradores apresentam em 2010 uma análise preliminar da diversidade representada na jazida de Andrés, a qual se revela como uma das jazidas com maior diversidade registada no Jurássico Superior da Península Ibérica. Entre o material recolhido estão identificados restos fósseis de peixes, de esfenodontes, de crocodilos primitivos, de pterossáurios e pelo menos sete formas distintas de dinossáurios.

Restos craniais de um esfenodonte

Organização

Esta saída será conduzida por Vanda Faria do Santos (Museu Nacional de História Natural e da Ciência), Bruno Pereira (Geal - Museu da Lourinhã) e Elisabete Malafaia (Instituto Dom Luiz/Museu Nacional de História Natural e da Ciência/Sociedade de História Natural).

Vanda Faria dos Santos (MNHNUL)

Vanda Faria dos Santos é investigadora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, licenciada em Geologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Doutora em Paleontologia pela Universidade Autónoma de Madrid, onde defendeu a tese intitulada "Pistas de dinossáurio no Jurássico-Cretácico de Portugal”. A sua investigação centra-se no estudo do registo icnofóssíl de dinossáurios, tendo estudado dezenas de trilhos do Jurássico e Cretácico da Bacia Lusitânica. Com mais de 20 anos de actividade como paleontóloga, destacam-se os trabalhos realizado em jazidas como a Pedreira do Galinha. Tem desenvolvido ainda actividades no âmbito do ensino de Geologia e Paleontologia e de conservação, valorização e divulgação do património paleontológico português - icnótopos com pegadas de dinossáurio. Colaborou em campanhas de salvaguarda de várias jazidas de icnofósseis em Portugal, hoje classificadas como Monumento Natural.

Bruno Pereira (ML)

Bruno Pereira é licenciado e mestre em Geologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e defendeu a sua tese de doutoramento intitulada “Portuguese Mesozoic echinoderms: systematics, stratigraphy, palaeoecology and palaeobiogeography” na University of Bristol (Reino Unido). Bruno Pereira tem dedicado a sua investigação ao estudo dos equinodermes fósseis do Mesozóico e Cenozóico português, com vários trabalhos publicados em revistas internacionais e nacionais. Tem desenvolvido uma importante actividade no Museu Lourinhã, onde presentemente trabalha, e participou em várias campanhas no Jurássico e Miocénico de Portugal e no Mesozóico e Cenozóico do Namibe (Angola), no âmbito do projecto cientifico PaleoAngola.

Elisabete Malafaia (IDL/MNHNUL/SHN)

Elisabete Malafaia é formada em Geologia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e está actualmente a finalizar a sua tese de doutoramento sobre dinossáurios terópodes do Jurássico Superior de Portugal pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. A actual investigadora do Instituto Dom Luiz tem-se dedicado ao estudo do registo de terópodes do Jurássico Superior e Cretácico Inferior da Bacia Lusitânica, com vários trabalhos publicados em revistas e congresso internacionais. Elisabete é umas das principais responsáveis no estudo paleontológico da Jazida de Andrés (Pombal), onde foram encontrados restos fósseis de um terópode em excepcional estado de preservação e atribuídos no ano de 1999 a Allosaurus fragilis. A sua investigação conduziu-a à incorporação em numerosas campanhas paleontológicas em Portugal, Espanha e Estados Unidos da América. Como investigadora da Sociedade de História Natural e Museu Nacional de História Natural e da Ciência, participou em vários projectos museográficos e de divulgação em paleontologia, destacando-se as exposições “Allosaurus: um dinossauro, dois continentes” (no MNHNUL), “Dinossauros que viveram na nossa terra” (no MLT) e o projecto expositivo do Museu da Batalha.

-----
Referências:

No hay comentarios:

Publicar un comentario